segunda-feira, 20 de agosto de 2007

"A doçura que fascina e o prazer que mata"

mallarmé

baudelaire

Há poetas que só bastariam ter escrito um poema e isso já seria o suficiente para justificar suas grandezas.

Mas muitos, não contentes, resolvem fazer uma obra inteira e marcar definitivamente a Literatura.

Selecionei dois poemas que gosto muito de dois grandes poetas franceses do fim do seculo 19 os quais redefiniram o que seria a poesia, o poema e a sensibilidade modernas.

Não há muito o que falar, só ler e se deixar levar pelas vozes desses poetas e suas imagens cheias de símbolos.

A uma passante
Baudelaire
A rua ensurdecedora urrava ao meu redor
Alta e esbelta, toda de luto, majestosa na dor,
Uma mulher passou, a mão vaidosa
Erguendo, balançando a bainha e o festão.
Ágil e nobre, com pernas de estátua.
Eu, crispado como um extravagante, bebia
No seu olho, lívido céu que gera o furacão,
A doçura que fascina e o prazer que mata.
Um clarão... e a noite depois! - Fugidia beleza,
De olhar que me fez renascer,
Será que só te verei de novo na eternidade?
Tão longe daqui! Tão tarde! Talvez nunca!
Pois ignoro para onde vais e não sabes para onde vou.
Ó tu que eu teria amado, ó tu que sabias disso.



Brisa Marinha

Mallarmé

A carne é triste, e eu li todos os livros, todos.
Fugir! além! Eu sei que há pássaros já doudos
Por se ver entre os céus e a espuma do alto-mar!
Nada, nem os jardins refletidos no olhar,
Retém meu coração que já no mar se aninha.
Nem, ó noites, a luz da lâmpada sozinha
Sobre o papel vazio, intangível de brilho,
E nem a mulher moça amamentando o filho.
Hei de partir! Vapor de mastros oscilantes,
Ergue a âncora para regiões extravagantes!
Um Tédio desolado, entre anseios intensos,
Ainda acredita no supremo adeus dos lenços!
E esses mastros, talvez, cheios de maus presságios,
São dos que um vento faz vergar sobre os naufrágios
Sem ilhas férteis e sem mastros de veleiros...
Mas, ó minha alma, ouve a canção dos marinheiros!

Em breve, posto mais poemas de duas poetas brasileiras.





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