sábado, 18 de agosto de 2007

trilha sonora dos dias

johnny cash

jeff buckley

Recebi um cd esta semana, que eu aguardava há muito tempo, de um rapazinho chamado Chris Garneau. Ele lançou um disco leve, melódico, com presença de um piano que se casa de modo perfeito à sua voz. O rapaz é de Nova York e lançou este disco em 2006. O disco se chama Music for tourists. Ouçam-no, de preferência quando estiverem entre o fazer nada e algo que não tire a atenção.

Alguns o chamam de melancólico, o disco, pois as músicas são todas mais lentas. Para evitar que me chamem de deprimido, prefiro não fazer comentários sobre o tipo de música que este rapaz faz. Sugiro apenas que ouçam Refief e vejam o clip desta canção. Muito bons.

Tenho ouvido tanta coisa esses dias, algumas que descubro na curiosidade do que leio, outras porque amigos me falam. O fato é que algumas músicas chegam e ficam por dias “fritando”, como se dizia antigamente quando a gente punha um LP no Toca-Discos. Quem está, por assim dizer, “fritando” no PC, no som de casa, no mp4 são, além do Garneau, Jeff Buckley, Rufus Wainwright e Johnny Cash. Dos três, talvez este último seja o mais conhecido, até porque foi lançado um filme sobre sua vida chamado Johnny and June, que eu não vi.

Dono de uma voz potente, grave, Johnny Cash é mais identificado como cantor de country, mas como conheço pouco sua obra, o que posso dizer é que, do que tenho ouvido até agora, ele superou essa definição. O modo como ele diz as palavras, o timbre marcante e o jeito de interpretar as canções me fizeram perceber que ele vai além desse gênero. Bom, mas isso é só a impressão de quem conhece pouco, quase nada. De qualquer modo, procurem ouvir Hurt, uma versão de uma música do Nine Inch Nails, ou a versão que ele fez de One, do U2, e vocês entenderão o que falo. Aliás, o U2 teve a participação de Cash na última faixa de Zooropa.

Jeff Buckley eu já havia ouvido há algum tempo. De cara tinha gostado da versão de Hallelljuja, de Leonard Cohen, que ele havia feito, mas nunca tinha parado para ouvir o disco dele, por inteiro. Só esses dias acabei por ouvi-lo e, enfim, o descobri.

A história desse rapaz é bem trágica. Filho de Tim Buckley ( conhecido cantor de folk nos EUA), ele queria se tornar um grande guitarrista e não um cantor, como o pai, segundo li para que ele tivesse autonomia sobre sua carreira e evitar as velhas comparações entre filhos de cantores e seus pais famosos. O fato é que ele acabou cantando e chamando atenção pela beleza de sua voz.

Para encurtar o texto, ele lançou um disco em 1994, chamado Grace, que não fez tanto sucesso, por não ser tão comercial que tocasse nas rádios mais pop, nem tão alternativo que tocasse nas independentes. De qualquer modo, chamou a atenção da crítica e de um público o qual se tornou maior depois que este rapaz morreu, aos 31 anos, quando ia encontrar sua banda para fazer seu segundo disco.

Mas, tragédias à parte, ouçam o disco. Há músicas lindas, como a que dá título ao disco, a que me referi acima, de Leonard Cohen, e outras onde a gente pode perceber melhor a beleza e o alcance da voz desse rapaz, como Lilac Wine e Corpus Christi Carol. Há versões que ele, e que estão soltas na NET, para canções bem diferentes, que vão de Smiths ( I know it’s over) a Bob Dylan ( If you see her, say hello). Ouçam-nas também.

Gilberto Freyre disse, certa vez, aliás isso está gravado e sampleado no disco do DJ Dolores, que ele era “o mais contraditório dos homens”. Pois bem, me coloco na frase do sociólogo. Falo isso porque, há muitos anos, quando ainda morava em Recife, via clips de Rufus Wainwright na MTV e achava enfadonhas sua voz e sua música. Nunca ia até o final do clip ou da música. Aquilo simplesmente me irritava.

Pois bem, este ano li uma resenha sobre o novo disco deste rapaz e resolvi baixá-lo para ver o que era. Toquei algumas vezes e não ouvi nada inteiro. Mas eis que um dia, ao acaso, bato o olho na lista das músicas e, aleatoriamente, escolho uma chamada Going to a town. Chapei. Achei perfeitas a melodia, a voz e o jeito desencantado dele cantá-la.

Aquela canção parecia ser a trilha sonora dos dias que eu estava vivendo, entre a tristeza e a euforia (segundo os psicanalistas, a mania) e foi quem me conduziu às demais da lista. Fui descobrindo cada uma aos poucos e fui, cada vez mais, me entusiasmando por elas. Resultado: comprei o disco. Baixei outras coisas dele também, inclusive uma música que ele fez em homenagem ao Jeff Buckley, chamada Memphis Skyline, e outra,Old whore’s diet, em dueto com o Antony Hegart.

Quem puder, ou quem quiser, ou quem se interessar, ouça o novo disco dele, Release the stars. Essa frase, que dá título ao disco, está presente na faixa que fecha o CD cujas metáforas caem bem para quem ainda se apega a vãs esperanças, mesmo estando no meio do caminho entre os 30-e-alguma e os 40-e-vou-pra-lá.

E se puderem vejam o clip de Going to a town. Esse vídeo, de aparência simples, guarda alguns signos que vão desde as parcas, donas do destino (observem as mulheres vestidas de preto), até Jesus Cristo. Achei tudo sutilmente exagerado, dramático, quase trágico. Mas a música desse menino é assim mesmo. Ouçam-na, ou melhor, ouçam-nos.









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