segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Palavra que nos falta





Li num texto de Octavio Paz que nós não falamos as coisas, mas as palavras que dizem as coisas. Isso me lembrou Saussure e sua velha teoria da arbitrariedade do signo, a qual o poeta mexicano não aceita muito bem por preferir a noção, muito platônica, de que há relação entre som e sentido.

Sem querer, Paz me trouxe um abismo que eu não mais visitava, o da impossibilidade de dizer as coisas, ou mais: o da impossibilidade de, ao falar as coisas, trazê-las em sua essência. Fiquei levemente angustiado porque sempre me parece que a palavra nos falta e não há outra forma de nos salvar.

Para Octavio Paz, grande poeta que foi, só os deuses dizem as coisas ( o sol, a água, a luz como se Deus soprasse e tudo assim se fizesse ). Nós, humanos, tão pequenos, ganhamos a graça de apenas nomear, dar forma, atribuir conteúdos àquilo que vemos e nomeamos, ou significamos.

Fico angustiado porque nunca chegaremos à essência das coisas, dos objetos, dos sentimentos porque o Ser de cada uma dessas coisas se sobrepõe ao verbo. Sabê-los, conhecê-los nos pede mais que um vocabulário rico; talvez nos peça um aclaramento de consciência maior do que ela nos dá.

Por ser poeta também, Paz já conhecia a resposta, talvez até melhor que os filósofos e os lingüistas. A poesia e seu universo não só servem para renomear as coisas, mas também para criá-las, assim como os deuses fizeram.

Um poeta, ao usar o verbo, não sobe às esferas celestes, mas faz descer ao seu mundo (e só dele ) a divindade que habita em cada ente que preenche os espaços físicos para, em sopro renovado, tornarem-se novos objetos, novas coisas, novas palavras, no universo da poesia.

Se a palavra falta, o poeta nos deixa o vácuo do silêncio ( este sim, por vezes tão eloqüente) e ele nos dirá mais que nosso olho vê e nossos ouvidos captam em verdade e beleza. Sem dúvidas, os poetas sabem do mistério.

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E um menino, de olhos arregalados, como quem se espantasse com a existência e seu brilho, perguntou:

- Mas o que há por trás das coisas? O que vem depois da destruição dos espaços e sua ordem?

E o poeta respondeu:

- O silêncio e sua verdade sem nome.



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