segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Le temps détruit tout



Vejo à minha frente um muro, vermelho. Mas o que menos importa é a cor. A forma, apenas faz o desenho do que vejo. No entanto, o muro é vermelho. Vejo o espaço em volta de mim. É apenas um espaço com tudo distribuído, de modo que cada coisa ocupe o seu lugar e assim eu possa saber que ali há, de fato, um espaço.

Porém tudo se distribui e assim se faz, sem que eu pergunte o porquê de cada coisa estar ali, ainda que meu coração pulse por sabê-las tão vivas e inteiramente dadas e sussurre, como para si mesmo, o que é cada coisa ali, no mistério de sua forma, a me observar enquanto as observo.

Olho para o firmamento e o que se espraia é puro azul e o azul é o que me eleva, pois o vejo tão amplo que sua luz intensa destrói as formas e redefine o espaço numa sensação de grandeza cuja medida é dada pelo que os olhos podem alcançar, e meus olhos, de tão poucas noções de longitude, se espantam, não com a distância que o céu espalha seu denso véu de cores múltiplas, mas com o reconhecimento dessa grandeza, a qual não pertenço e sei dela tão bem como se assim a fosse.

E penso que cada uma dessas coisas, assim tão naturalmente vistas, supera os nomes, mata o verbo, como se soubéssemos, eu e elas, que as palavras, às vezes tão necessárias, outras vezes são apenas tentativas frágeis de prender sensações maiores que elas mesmas ou fazer surgir significados e verdades das quais não conhecemos, ignoramos ou não queremos aclarar, ainda que presentes, pois não sabemos como lidar com algo tão grande cuja dimensão alarga os espaços e nos mostra, tão silenciosamente quanto um muro alto que guarda algo precioso, que as sensações, sim, pedem palavras que as traduzam, mas que não podem ser ditas, ainda.

O Tempo, não o vejo, assim como ninguém o veria, mas sei que ele está ali, esmaecendo cores, enrugando olhos, corroendo paredes e dando outros matizes a roupas, livros, cidades e esperanças. Vejo o tempo fechar o ciclo de uns e abrir amplas possibilidades da existência a tantos outros.

Mas o que menos importa são as marcas do que vejo. O Tempo, este tão íntimo, que me assusta e me fascina com sua onipresença, como um Deus que, se não conhece a verdade, a detém em sua essência, o Tempo me fala coisas, redefine meus sentimentos em novas cores, matizando-as, não pelo desgaste, mas pela intensidade do que elas podem trazer.

E eis que o vermelho do muro, hoje vivo e intenso, amanhã pode estar lançado à sorte de, sob o toque sutil desse mesmo Tempo, estar esmaecido, quase morto de sua densidade. E eu, como assustado por já saber uma verdade, como um mistério sempre revelado, o olho com espanto ao ver que tantas coisas nascem, outras tantas morrem e outras se tornam fixas no signo da perenidade porque desconfio que aquilo que o Tempo trama, em seu silêncio de presença eterna, se fixa não nas formas, nem nas cores, nem nos limites do verbo, mas na grandeza intensa das sensações, essas que não nos pedem para chegar, porque sempre estiveram ali, e parecem não se ir mais porque não foram moldadas com os elementos da perda.

Sobretudo respeito o Tempo.

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