segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Ordenada e cerebral maneira de ser feliz

"E no entanto é preciso cantar / Mais que nunca é preciso cantar / É preciso cantar e alegrar a cidade"
(Marcha da Quarta-Feira de Cinzas - Carlos Lyra e Vinícius de Morais)
Como havia comentado em um dos textos anteriores, fui ao carnaval de Recife. Não que isto seja algo magnífico, até porque, como havia dito no mesmo já citado texto, não curto muito o empurra-empurra e a desordem naturais a essa festa. Mas, como sou contraditório ( “ o mais contraditório dos homens”, como dizia Gilberto Freyre ), lá fui eu, certo do que queria: me divertir. E, contrariando até mesmo as minhas expectativas, me diverti, sim.

O carnaval em Recife tem a vantagem de se mostrar estranhamente pouco comum ao que a gente pensa como carnaval. Há, sem dúvidas, as máscaras, as fantasias, os blocos, troças, o desregramento da carne e dos sentidos, e o que mais houver. No entanto, por vezes, parece ser uma conjunção de festas espalhadas em vários lugares, como se toda a diversão do ano se condensasse ali, naqueles dias, tanto que a gente esquece até se o sábado é domingo ou se a quarta de cinzas foi semana passada.
Não falo isso em tom moralista nem de desprezo; ao contrário, achei essa pletora de alegria ( salve, Caetano!) e essa caótica felicidade motivos suficientes para viver a minha ordenada e cerebral maneira de ser feliz se realizar.

Para isso, decidi minimizar pequenas raivas e inevitáveis contratempos. Pela minha fama de garoto-enxaqueca, isso parecia impossível, mas, glória da idade ou desejo de só sorrir, as poucas que vieram as diluí no suor derramado nas ladeiras de Olinda. Resultado disso tudo: um dos melhores carnavais que já tive.

Para mim foi um carnaval pra dentro, aquele que você curte as festas, revê as pessoas (carnavais servem para trazer o passado e enterrar histórias do presente também), brinca com quem brinca com você, mas observa num canto muito íntimo, só seu, indivisível, tudo a sua volta, com um sorriso de quem quer só celebrar o instante, sem pressa, nem agitação.

E foram assim todos os dias, sem pensar nos dias de antes, felizes, mas prevendo os que vinham, improváveis. O resultado já supunha ou esperava e, por esperar, não me machuquei tanto, e agora rio de tudo e agradeço a Deus por ter tido dias tão calmos e meses tão bons, tanto que isso se refletiu na minha cara e nos comentários de meus velhos amigos que falaram que eu estava diferente, mudado. Não me atrevi a perguntar se pra pior. Desconfio da resposta.

O fato é que o carnaval de esquecimento que foi este nas ruas velhas de Recife ou no sobe e desce de Olinda me marcou por ser exatamente comum, sem beijos, sem abraços e sem amores sem nome. Vi tudo o que queria e fiz tudo o que me propus. O que restou foi uma vontade de ficar ou de ter a saudade que nunca tive. E deu até pra me emocionar com o frevo cantado por Luis Melodia. Salve, Melodia!!!

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