sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Tom Jobim


Para Joabe H. e Luis Osete , que adoram Bossa Nova.



Sim, o Rio de Janeiro continua lindo, o Rio de Janeiro continua sendo, o Rio de Janeiro ainda vai ser mais do que ele é quanto mais nos afastamos dele hoje e do que os próprios cariocas ( ou dos que vivem lá ) falam. Tipo: ame-o ou deixe-o.

Particularmente gosto da luz do Rio. Sempre repito isso aos meus amigos quando falo de lá. Acho que foi o que ficou mais marcado em meus olhos: uma cidade rodeada de serras ou pequenas montanhas e muita luz em volta realçando aquela opulência da natureza sendo manchada pela violência e inevitável deterioração.

Mas o Rio que acabou ficando na cabeça dos cariocas e no imaginário coletivo do país é o das calçadas de Copacabana, das praias, do amor, do sorriso e da flor. É o Rio que Tom Jobim forjou em suas melodias sem saber e é o que se sustenta quando nos afastamos dele ou vem num saudosismo do que não foi vivido quando o avião paira sobre a cidade e o Samba do avião volta à nossa mente.

Sem o Rio talvez a Bossa Nova não fosse o que ela é ou tivesse a importância que tem como expressão cultural (não musical, porque ela se sustenta sozinha). Isso que falo parece bobagem, mas acharia meio estranho que fosse Garota de Itapuã e não de Ipanema. Óbvio que a época, o momento e a esperança de um Brasil moderno na figura de Juscelino e suas intensas inovações ajudaram a forjar essa imagem, mas nem Brasília, nem a Bahia nem São Paulo seriam o melhor cenário das personagens e do estilo exposto pela sofisticação bossa novista do que o Rio.

E volto a Tom Jobim. Acho a voz dele enfadonha, feia e cansada. Mas nem todos devem ou podem cantar. O mesmo eu acho de Vinícius, grande poeta, iluminado letrista para forjar belas imagens para as canções (se bem que há coisas que ele fez que, acho, que seria melhor ser só poeta). Ambos, um na confecção das harmonias e outro na tessitura das palavras, deram aquilo que não se esquece e se cristalizou na memória afetiva de quem não é carioca, de quem não conhece tão bem a Bossa Nova e que nunca foi ao Rio. Na voz de quem sabe cantar, essas canções se tornam eternas.

E por falar em cantar e por falar em Tom Jobim e imagens cristalizadas, não se precisa ir muito longe pra saber de tudo isso. Basta ouvir o Elis e Tom, de 76, ou o disco que Gal fez só com canções dele e cujo único erro foi ser ao vivo. Nesses álbuns estão músicas que parecem feitas para embalar histórias de amor com muito sol, desejo de felicidade infinita e uma trilha que só inspira amar e ser amado.

Certamente, as mesmas pessoas ou o cenário que as inspiraram vieram do Rio e é esse Rio da saudade de um passado não vivido que sinto quando ouço essas canções de Jobim, sejam com letras de Vinícius ou não. E são essas mesmas canções que delinearam um amor moderno, sofisticado e solar (como era a juventude dourada que se reunia no AP de Nara ), assim como a Bossa Nova modernizou a música brasileira. Quem quiser entender isso tudo o que falo basta ouvir Corcovado, Fotografia, Ligia, Dindi, Pois é, Se todos fossem iguais a você e, óbvio, a trilogia da beleza: Derradeira primavera, Por causa de você e Eu sei que vou te amar. Ah, ainda tem Janelas abertas, ainda.

Não à toa, Elis pediu como brinde por 10 anos na Philips do Brasil (sua gravadora na época) um disco só com Tom, ao invés de um carrão super caro. Sabia da grandeza desse encontro.

E o Rio continua lindo...



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