quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

mais velho que no futuro

Às vezes falo com pessoas de 20 anos ou um pouco mais a respeito de coisas que eu via ou ouvia quando tinha a idade deles, ou um pouco menos, e me espantava (hoje não me espanto mais). O espanto vem porque eles não conheciam coisas tão familiares, pelo menos a mim. A negativa deles à minha pergunta sempre me colocava e ainda coloca na posição de saber, sim, que não sou mais tão novo. Confesso: estou em crise, entre tantas, e a que se instaurou há um tempo me joga no centro da minha idade.

Não sei se isso é porque convivo com gente mais nova que eu ou porque meus amigos não demonstram sinais de tal crise. O fato é que me vejo mais velho que no futuro e isso tem me colocado o impasse entre aceitar a bela maturidade ou ter a chamada “alma jovem”. Isso para mim é de certo modo uma bobagem; alma jovem não adianta muito se o corpo não reflete a intensidade da juventude, e ser maduro, muitas vezes, não depende de o cara ser velho. Conheço gente nova que dá de 10 em muitos que se aventam a afirmar-se como senhores da razão.

Falando assim, no entanto, parece que estou no lamento de quem não tem mais o que fazer a não ser esperar a morte chegar, como dizia Raul Seixas. Pelo contrário. Na mesma proporção em que me espanto com o tempo passando ao ver que tanta gente não conhece o que vivi, vejo que algo se constrói: a minha vivência, aquilo que me faz me sentir mais experiente ou mais seguro em relação a alguns aspectos da vida.

Certa vez, falando com uma amiga, ouvi dela que éramos da geração X, segundo ela aquela geração que estava no meio termo entre ser adulto, e assumir uma vida como tal, ou ainda estar sob os efeitos da adolescência. Eu me identifiquei total com isso. Como nunca me vi muito adaptado às obrigações adultas, sempre estive no limiar dos que não sabem se compram um carro ou se casam, ou ainda se apenas gastam o que ganham com cd’s, tênis, livros e nada que possa indicar que, enfim, há responsabilidades totais de adulto.

Não sei se isso tudo é reflexo dessa tal crise ou se tem a ver com o fato de que minha geração cresceu sob outras expectativas, bem diferentes da geração de meus pais, na qual ou se tentava mudar o mundo ou se adaptava a ele muito facilmente, vivendo, como cada um podia, aquela seqüência se-formar-casar-ter-filhos-um-bom-carro-e-uma-boa-casa.

A minha geração, não inteiramente, é óbvio, optou por não mudar nada e redefinir a seqüência, valorizando mais a experiência e sem grandes apegos a noções de eternidade. Daí que, livres, as responsabilidades recaem sobre quem as decide viver na sua liberdade e nas inúmeras opções que a vida pode ter. Talvez hoje case-se menos, ou separe-se mais, porque não haja tantas necessidades de se viver uma vida mais “fechada”.

O fato é que se envelhecer é sinalizado pela intolerância a certas bobagens e não dar importância a tantas outras, estou, de fato, velhinho. Se envelhecer é saber que estou diante da clara constatação de saber que sou livre, como um amigo me falou há alguns dias, então estou envelhecendo sob os signos da liberdade culpada, aquela que nos deixa a mercê das próprias decisões, mas sem saber se elas são as melhores. Sei que isso gera um paradoxo, pois, afinal, espera-se que um cara de 35 já seja seguro o suficiente para responder a qualquer questão com a firmeza que o tempo, e a já citada experiência, nos dão.

Não tenho resposta a isto,mas resolvo o paradoxo afirmando que, diante de tanta liberdade, quero sobretudo aquela que me faz ver que posso errar muitas vezes, como se tivesse 17, e que nem por isso sou menos maduro, ou velhinho, seja lá o que isso possa ser.

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