terça-feira, 31 de julho de 2007

O cinema mais uma vez em luto



Soube hoje pela manhã que o Antonioni também se foi, ao que parece ontem, no mesmo dia em que Bergman também nos deixou. Dois cineastas totalmente diferentes em suas abordagens, mas tratando de temas soberbos e imensos. Lembro de quando vi Blow up e tive a impressão de que nada é real ou que toda imagem pode ser menos ( ou mais ) do que diz. Mais pós-moderno que isso só a tensão da falta que vai crescendo em Profissão:repórter. Ou de Zabriskie Point e sua louca orgia. Era muito novo na época que vi este último filme, mas fiquei impactado por toda aquela estranha forma de se fazer cinema.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Sobre um dia frio e Bergman


Hoje foi um dia atípico. Fez um frio nessa cidade que eu nunca havia sentido desde que vim para cá, nos quase 3 anos de vida petrolinense. Aliado a isso, um começo de semana meio incerto, sem saber exatamente se projetos vão dar ou não certo. Espera. Realmente tenho que continuar contemplando o Tempo e pedindo a ele que me dê paciência porque parece que tudo é uma longa espera....

Bergman morreu. Deixou um legado de grandes filmes que, parece, estão sendo reavaliados agora.

Li recentemente em um artigo, depois de ter recebido, de empréstimo, o dvd de Gritos e Sussurros de um amigo, que a força de Bergman, como diretor e criador, estava meio que démodé (expressão minha, não do autor do artigo), pois o chamado “cinema de autor” já não tem tanta força há muito tempo e que a influência do diretor sueco não foi tão intensa nos novos cineastas como fora no passado, em diretores como Woody Allen.

Não entendo muito de cinema, mas acho que a obra de Bergman supera esses conceitos, não apenas pela intensidade do texto (vide Sonata de Outono), mas também pela crueza de ver os personagens de sua obra num close que, em muitos casos, revela muito mais do o que o olho mostra, expondo os medos, ansiedades e desejos de homens e mulheres.

Esse volteio sobre as angústias humanas em suas variadas nuances perpassam temas como a morte, o amor, o silêncio e o sentimento, ou a falta dele, como falei para este mesmo amigo que me emprestou o Gritos e Sussurros quando comentávamos sobre esta obra-prima da estética bergmaniana.

Este filme, de 1972, talvez seja uma boa síntese do que é o cinema desse diretor. Precisão nas tomadas, direção perfeita de atores, neste caso, atrizes, e uma sensação de desamparo cada vez maior à medida que a história acontece. O enredo é simples: 3 irmãs estão numa grande casa de campo acompanhadas de uma empregada, mas uma das irmãs, Agnes, (Harriet Anderson, perfeita e linda, ainda que enferma) está na iminência da morte. Neste cenário, cada uma das personagens tem sua vida exposta em closes de seus rostos e sons de sussurros e gritos que terminam numa imagem chapada em vermelho.

Esta cor, inclusive, está presente em todo o filme: nas paredes, lençóis, cadeiras e cortinas e, segundo li há alguns anos em alguma dessas críticas de cinema, seu uso intenso seria a expressão da consciência humana. O próprio Bergman afirmou que este filme não tratava especificamente da alma (ou da consciência) feminina, mas de homens e mulheres. Sem dúvida, o tema tratado nesta obra é privilégio ( se é que se pode falar assim) de todos nós: ele trata sobre a solidão, o medo do desconhecido e a falta de troca afetiva entre pessoas que, muitas vezes, supomos serem as mais próximas de nós.

Neste caso, as irmãs da moribunda apenas se espantam diante de seus esgares, mas se sentem impotentes de dar-lhe proteção e amor. A estranha à família, a empregada, é o único elo possível entre a ausência de afeto e o amor mais puro. Isso inclusive é mostrado numa cena cuja intertextualidade remete à Pietá e que é fundamental para o clímax da narrativa: depois de morta, Anna ainda deseja amor.

Este não é o único filme de Bergman a tratar da morte. Ela está personificada no Sétimo Selo também. Um outro amigo meu me falou certa vez que este filme já tinha virado um clichê e que essa personificação da morte com uma capa preta e olhar severo já estava gasta. Pode até ser, mas me lembro bem que, quando vi este filme há anos em Recife, nas famosas sessões do cinema de arte do Veneza e do São Luiz, fiquei impressionado com as imagens, os rostos, a fotografia ( do mestre Sven Nykvist) e, sobretudo, o texto.

Algo que me marcou muito nessa época foi uma estranha sensação de silêncio após a exibição de Gritos e Sussurros. O cinema estava cheio e havia um sentimento de desamparo geral em quem viu aquilo, acompanhado de um frio intenso de desolação. Eu fiquei dias pensando naquilo tudo como se ainda estivesse na sala de cinema tomado por aquela sensação que não cessava.

Curiosamente, essa mesma sensação me veio hoje, nesse dia atípico e de sol tímido, de ventos gelados e pessoas caladas, quando Bergman nos deixa, expondo o quanto ele, assim como nós, somos demasiado humanos, frágeis, desamparados e incompletos. As respostas a tudo isso? Se é que elas existem, a única coisa é esperar, pois talvez o Tempo (ou a morte) hão de trazê-las.

domingo, 29 de julho de 2007

Antony, Bjork e o Brasil



Este talvez seja uma das melhores revelações da música desta década. Antony e seus Johnsons fazem um som ao mesmo tempo poético e forte, melancólico e introspectivo. Fez Lou Reed chorar e participou do último disco de Björk em duas belas faixas de seu novo disco, Volta. O melhor é que ambos, Antony e a islandesa, vêm ao Brasil em Outubro. Que sejam bem vindos!!!